Juan
Gonçalves, Presidente da Associação de Ténis de Mesa da Madeira, desde 2007, é Professor
de Educação Física, natural da Venezuela, mas com nacionalidade portuguesa, fez
todas a sua formação académica, do ensino Básico à Licenciatura, na Região
Autónoma da Madeira. Actualmente e desde 1995 exerce funções, como Gestor
Desportivo na Associação de Ténis de Mesa da Madeira e entre 1996 e meados de 2007, foi Vice-Presidente
- Quais os
objectivos a longo prazo do ténis de mesa juvenil madeirense?
Felizmente, e em contradição
com o atual momento em que vivemos, os principais jovens atletas madeirenses
apresentam elevados níveis qualitativos, que nos permitem traçar objetivos a
longo prazo muito otimistas, quer a nível nacional como internacional. Por
isso, esperamos sinceramente que ao longo das próximas épocas desportivas os
nossos atletas jovens continuem a se destacar nas competições nacionais, bem
como aumentar o número de atletas internacionais. Todavia, para que isto
prossiga o seu percurso natural este processo de desenvolvimento desportivo não
pode ser interrompido nem prejudicado, pois estes jovens valores têm de
continuar a trabalhar internamente, assim como a participar em provas nacionais
e internacionais, mas para isso necessitamos de assegurar o seu financiamento.
Infelizmente, neste momento, fruto das atuais dificuldades, esta situação ainda
não está assegurada.
- E relativamente as participações internacionais, com
mesatenistas não seniores?
Neste âmbito, o nosso principal
objetivo é de prosseguir a criar as melhores condições para que os atletas não
seniores com potencialidades consigam atingir a internacionalização para que
depois possam ser apoiados pela Federação Portuguesa de Ténis de Mesa em provas
internacionais. Neste caso concreto, e dependendo obviamente das nossas
possibilidades financeiras, para além dos estágios regionais as principais
apostas passam pelo financiamento das seleções da Madeira de jovens em provas
nacionais e internacionais, assim como de atletas em estágios e provas
nacionais e internacionais, de modo a que possam ir evoluindo progressivamente
até conseguirem despertar a atenção dos responsáveis federativos e não só.
- A ATMM tem alguma proposta para apresentar ao Governo
Regional, no âmbito do PAPEP - Programa de Apoio a Praticantes de Elevado Potencial?
Neste preciso momento está a
ser discutido um novo modelo de apoios ao desporto da RAM, que entrará em vigor
já na próxima época desportiva, por isso todos os regulamentos que estão em
vigor até ao final da presente época ficam sem efeito. Contudo, posso referir
que o referido programa (PAPEP), foi de extrema importância para o Ténis de
Mesa Regional, mormente para o funcionamento do Centro de Treino de Alto
Rendimento da Madeira que, atualmente suspenso devido à falta de apoios,
contribuiu positivamente, em complementaridade com o trabalho desenvolvido nos
clubes, no processo de desenvolvimento desportivo dos jovens atletas
madeirenses, bem como permitiu que muitos desses atletas tivessem a possibilidade
de participar em estágios e competições internacionais, reforçando e potenciado
assim esse mesmo processo de formação desportiva com vista ao alto rendimento.
Assim, tendo em conta esta experiência, a nossa proposta para os responsáveis
políticos regionais e relativamente a esta matéria, passa por continuar a
apoiar estes projetos desportivos que investem no processo de desenvolvimento
desportivo a médio e longo prazo e não no produto (resultados) imediato. Temos
a plena consciência que formar atletas de nível leva o seu tempo, por isso não
faz sentido lutarmos contra o tempo, contra tudo e todos. A vida é mais do que
isso certamente!
- Qual a situação da comunidade escolar relativamente ao
Ténis de Mesa, em termos de dinâmica e protocolos?
O Ténis de Mesa escolar,
assim como as restantes modalidades dependem diretamente do Gabinete
Coordenador do Desporto Escolar. Atualmente a intervenção da ATMM é mínima,
pois fruto de colaborações anteriores e não só, o próprio gabinete ganhou
competências organizacionais, que lhe permitiu assumir essas e outras
responsabilidades na gestão da modalidade. Por outro lado, e daquilo que temos
conhecimento, que não é muito profundo, parece-nos que a modalidade de Ténis de
Mesa tem tido bastante adesão por parte dos alunos dos vários estabelecimentos
de ensino, situação que nos deixa bastante satisfeitos. Também fruto das
dificuldades financeiras ao longo dos últimos anos a dinâmica competitiva foi
reduzida o que por si só pode ter provocado alguma desmotivação, assim como
algum retrocesso no próprio desenvolvimento do desporto escolar.
- Presentemente quantas Escolas estão em actividade com
Núcleos de Ténis de Mesa e qual a simpatia dos professores, por esta modalidade?
De acordo com o que foi referido
anteriormente, esta Associação não tem essa informação, pois como está
organizado o Desporto escolar os núcleos de Ténis de Mesa apenas competem nas
competições escolares. Todavia, podemos adiantar que neste momento existem dois
Clubes Escola (CD Escola B+S de Santa Cruz e CD Escola do Porto da Cruz) que
participam na competição desportiva federada e que de ano para ano têm conseguido
apresentar um trabalho com maior qualidade ao nível da formação.
- Vale a pena estudar e alimentar o sonho de ser um atleta
de elite em Portugal, atendendo às dificuldades financeiras, logísticas,
físicas, entre outras?
Se compararmos com os meios
que são disponibilizados por outros países à maioria das modalidades durante o
processo de desenvolvimento, a resposta é obviamente não! Contrariamente ao que
defendemos, a maioria das instituições desportivas (públicas e privadas) em
Portugal financiam o desenvolvimento do produto (resultados) desportivo, ou
seja a maior parte do financiamento do desporto no nosso país é feito mediante
os resultados alcançados. Se esta situação faz sentido a partir de um
determinado escalão etário e nível desportivo, durante o processo de formação incentiva
a especialização em detrimento da estimulação precoce. Porém, se tivermos em
linha de conta os atletas (masculinos) olímpicos portugueses de Ténis de Mesa
(João Monteiro, Marcos Freitas e Tiago Apolónio) a nossa resposta passa a ser
afirmativa, pois independentemente dos poucos recursos o mais importante é
encontrarmos atletas que para além das suas potencialidades técnicas e físicas
tenham vontade de trabalhar e de alcançar o alto rendimento, nem que para tal
tenham de sair do país para procurar melhores condições de trabalho. Neste
caso, podemos salientar que o talento, empenhamento e a ambição dos agentes
desportivos superaram as carências do nosso país.
- O objectivo de todos é chegar o mais longe possível,
pelo que terá de se percorrer um longo caminho trabalhando muito para se
conseguirem determinados objectivos. Na Madeira já foram alcançados alguns
desses objetivos?
Claro que sim. Felizmente
podemos afirmar que ao longo dos últimos vinte anos o Ténis de Mesa da Madeira,
fruto de muito trabalho, dedicação e competência de todos os intervenientes da
modalidade (instituições e agentes desportivos), conseguiu alcançar muitos dos objetivos
que foram traçados nas diferentes épocas desportivas e que elevaram o nome desta
modalidade no panorama regional, nacional e internacional. Na verdade, essas
conquistas não se materializaram apenas com a ascensão técnica e desportiva de
atletas, em que a nossa principal referência internacional é o Marcos Freitas,
que fez toda a sua formação desportiva na região, treinadores (nas seleções
nacionais), árbitros (nacionais e internacionais) e de dirigentes, com muitas
provas dadas, mas também através de outros setores da modalidade, (comunicação,
Centro de Treino de Alto Rendimento, eventos desportivos, economia e
financeira, formação, infraestruturas, promoção, etc, etc.) que foram
evoluindo, graças à implementação de vários projectos e estratégias.
- Para uma regular competição internacional,
justificar-se-ia um Centro de Treinos de Alto Rendimento, na Madeira, com
espaços devidamente apetrechados e exclusivos?
Concordamos em absoluto. Aliás,
como já foi referido anteriormente, o funcionamento do centro de treino de alto
rendimento na Madeira (CTAR Madeira), em instalações próprias e específicas,
com um treinador em exclusividade, foi sempre uma das nossas apostas, pelo
menos até a presente época, pois continuamos a acreditar que a concentração dos
melhores atletas, num mesmo espaço de treino, é muito benéfica para a evolução
progressiva dos atletas, tendo em vista ao alto rendimento. Contudo, não
podemos deixar de vincar que este trabalho só faz sentido se for realizado em
consonância e em complementaridade com o trabalho que é executado nos clubes. No
caso concreto da Madeira, temos a vantagem de vivermos muito próximos uns dos
outros, daí que sempre acreditamos na viabilidade deste projeto, uma vez que os
atletas não necessitam de abandonar a sua casa, o seu clube, a sua escola e os
seus amigos para poderem frequentar o CTAR Madeira, o que facilita e muito a
aceitação e operacionalização desta iniciativa. Acreditamos sinceramente que,
após esta fase conturbada, iremos reativar o CTAR Madeira.
- Comparativamente com países europeus de grande dimensão
competitiva, Portugal tem ainda um número muito reduzido de jogadores
federados. Qual será a solução, para que haja uma substancial aderência de
novos praticantes?
Embora, no nosso entender,
não haja uma relação direta entre o número de praticantes formais e a qualidade
dos mesmos, pois se assim fosse os nossos principais atletas, nos vários
escalões etários, não teriam o nível que apresentam, concordamos que o Ténis de
Mesa em Portugal já tinha que ter, forçosamente, outra dimensão quantitativa. Se
é verdade que não há soluções milagrosas, defendemos já há muito tempo que a
FPTM teria de ter lançado projetos de massificação da prática desportiva. Existe
a necessidade urgente de levar o Ténis de Mesa às pessoas e isso consegue-se
realizando ações de promoção e divulgação da modalidade pelo país, assim como
pressionar a administração pública nacional para que o financiamento à
Federação seja muito maior, já que os resultados desportivos, principalmente
internacionais, assim o justifica. Compreendemos perfeitamente que atualmente a
Federação não tem meios suficientes para acudir todas as áreas, por isso as
relações de cooperação com as várias Associações Distritais e Regionais são
fundamentais para levar avante os projetos e estratégias que visam, para já, o
crescimento da nossa modalidade.
- A juventude mundial não quer competir, não se quer
esforçar. Também a situação é idêntica com os jovens da Madeira?
Em todas as faixas etárias e
em todos os locais encontramos pessoas com esse perfil. Contudo, tenho sérias
dúvidas que o problema está na juventude que não quer competir ou se esforçar. Não
podemos esquecer que se realmente este é um sentimento generalizado entre os
jovens, então temos que questionar os adultos, pois esses sim, uns mais do que
outros, são os principais responsáveis por essa geração boémia. Nos últimos
15-20 anos muitos dos adultos trabalharam arduamente para proporcionarem
melhores condições, a todos os níveis, aos mais jovens, mas esqueceram-se muitas
vezes, quer no meio escolar, familiar e desportivo, “solicitar”
responsabilidade, competência, empenhamento, ambição, etc, o que fez com que
muitos deles tenham a ideia errada que a vida vai-se construindo sem qualquer
tipo de competição e esforço. Mas, o pessoal do desporto sabe e muito bem, que sem
dedicação e competição nada se consegue alcançar. Assim, se queremos jovens com
outras capacidades, nós os adultos, teremos de nos esforçar todos os dias para
provocarmos essa mudança comportamental. Se conseguirmos, ficaremos todos a
ganhar.
-
Para conseguirmos desenvolver uma eficaz formação e cultura desportiva e
criarmos condições para um desporto organizado, que sirva a grande maioria da
população juvenil, o que teremos que fazer?
Avançar para um projeto de
desenvolvimento desportivo nacional, tendo como prioridade máxima a
massificação da prática desportiva. Não podemos esperar que a população
portuguesa seja mais ativa se não forem criadas condições para que as várias
instituições desportivas desenvolvam as suas atividades, especialmente, de
promoção e formação desportiva. Na maioria dos casos, essas organizações
trabalham em condições muito difíceis e que mesmo assim conseguem, com muito
sacrifício e empenho, apresentar resultados desportivos que são verdadeiros
milagres. É caso para afirmar, se com estas dificuldades conseguiram-se esses
resultados, imaginem se existisse outras condições no nosso país! Daí que
defendemos que os que apresentem casos de sucesso não devem nunca desistir de
lutar por angariar mais e melhores meios aos responsáveis públicos desportivos,
já que prestam um serviço público muito importante. Não podemos também esquecer
de procurar outras fontes de financiamento nas instituições privadas, que
muitas das vezes têm sido os responsáveis pela sobrevivência de muitas
organizações desportivas.
- Perante a instabilidade social e económica vivida
presentemente, o caminho para uma desejada “pirâmide”, em que os atletas dos
escalões jovens, deveriam ser a grande “aposta”, deixa algumas perspectivas
para o futuro da modalidade em Portugal?
Não há dúvidas nenhumas que estamos
a viver um momento muito complexo, a todos os níveis. Se até agora o movimento
associativo desportivo, do Ténis de Mesa em particular, queixou-se de falta de
condições de financiamento entre outras, a partir de agora prevê-se um cenário
ainda mais negro. Todavia, tendo em conta os brilhantes resultados
internacionais, a dinâmica e a experiência positiva de algumas Associações e
Clubes, bem como a entrada de uma nova equipa diretiva para a FPTM, faço votos
para que entre todos consigam traçar um rumo comum (leia-se projeto de
desenvolvimento do Ténis de Mesa português), em prol do Ténis de Mesa de
Portugal. Como sabemos falar de interesse nacional é verdadeiramente fácil, o
muito complicado é passar à ação. Vamos todos abdicar do nosso interesse, em
particular, e olhar para o futuro com a esperança de que estas dificuldades nos
irão unir, ainda mais, em torno das utilidades principais da nossa modalidade. Para
finalizar, e tendo em conta os novos valores que despontam, acreditamos que o
futuro qualitativo mesatenístico está garantido, desde que continuemos a
apostar neles, assim como trabalhar em equipa, com competência e paixão.

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