Entrevista com Afonso Vilela
Publicado por: Diário Insular /Açores
22 de Agosto de 2012
O Futuro em Cima da Mesa
Mais do que vitórias,
importante é o futuro. Formar para um crescimento sustentado, palpável, em vez
de comprar rumo a uma evolução, porventura, mais rápida, mas quantas vezes
ilusória. É este o olhar que Afonso Vilela nos deixa sobre o futuro do ténis de
mesa. Melhor: sobre o futuro que deseja para o União Sebastianense. Chega a S.
Sebastião para comandar a equipa sénior que irá competir, em princípio, na 2.ª
Divisão Nacional, mas é nas camadas jovens que vai centrar grande parte das
suas preocupações diárias. O futuro, num presente repleto de incertezas, assim
o obriga.
Natural de Torres Vedras, "terra onde se pode ver o melhor carnaval do
mundo", Afonso Vilela é um apaixonado de longa data pelo ténis de mesa,
modalidade que começou a praticar desde os oito anos de idade. Enquanto júnior,
esteve quatro anos integrado na equipa do Sporting Clube de Portugal, onde foi
companheiro de... Francisco Santos, actualmente treinador no Juncal. É na ilha
da Madeira, onde conclui a licenciatura em Educação Física e Desporto, que
"descobre" os encantos do treino.
Antes, porém, o programa Erasmus leva-o até à longínqua e fria Noruega na época
de 2004/05, onde prossegue a carreira de jogador e tem o primeiro contacto com
as funções de treinador nas camadas jovens. É quando regressa à Pérola do
Atlântico que recebe o convite do São Roque para abraçar "a sério" a
carreira de técnico de ténis de mesa, onde permanece durante quatro épocas,
colaborando com Ricardo Faria, treinador da Selecção Nacional de Seniores
Masculinos. Em 2005/06 chega ao título máximo da modalidade em Portugal.
"Tive o privilégio de começar a aprender com os melhores", recorda
Afonso Vilela.
Volta à Noruega em 2009/10 e ao Heddal BTK para ser o treinador principal.
Ficou por um ano, mas, apesar das boas condições, as diferenças em relação a
Portugal eram abismais. Afonso Vilela, nota-se, é um apaixonado pela modalidade
e diz, com indisfarçável sinceridade, que tem "tentando viver do ténis de
mesa" desde que terminou a licenciatura. E tem sido possível? "É
muito por amor à camisola. Tenho os estudos concluídos, uma licenciatura em
Educação Física e, aos 28 anos, tenho uma conta bancária de três dígitos, se
assim se pode dizer. Sou um apaixonado e esta é a minha vida", afirma.
Depois da Noruega, o regresso ao Sporting. Integra a equipa "B" e os
escalões de formação com o objectivo principal de reconduzir o clube ao título
nacional nas camadas jovens por equipas, algo que o Sporting não vencia desde
que... Afonso Vilela competia nos juniores de Alvalade. A missão foi cumprida
com inteiro sucesso no conjunto júnior.
Treinador de Nível II da International Table Tennis Federation, Afonso Vilela
tem integrado a equipa de técnicos das seleções nacionais da Federação
Portuguesa de Ténis de Mesa desde a época 2010/11, embora confirme as dúvidas
quanto à continuidade nestas funções face aos problemas que o organismo
federativo atravessa. Ainda assim, garante que mantém toda a disponibilidade
para continuar com este projecto, até porque fez parte do último ciclo
olímpico.
Aliás, Afonso Vilela esteve presente nos Jogos Olímpicos de 2012, disputados em
Londres, como treinador de João Pedro Monteiro e Lei Mendes. A equipa nacional,
oitava no ranking mundial, atingiu de forma brilhante os quartos-de-final do
torneio de pares, depois de ter estado muito perto de surpreender a Coreia do
Sul, que foi medalha de prata e é segunda classificada do ranking. Tiago
Apolónia, Marcos Freitas e João Monteiro chegaram a estar a vencer por 2-1, mas
acabaram por não conseguir um triunfo numa das duas últimas partidas de
individuais que garantiria uma vitória histórica.
Afonso Vilela entende que esta boa prestação do ténis de mesa português nas
olimpíadas tem de ser aproveitada como forma de impulsionar a modalidade.
Aliás, o técnico, que na época passada trabalhou na Associação de Ténis de Mesa
da Ilha Terceira, quer aproveitar esta "boa onda" para levar a
modalidade aos alunos do 1.º Ciclo, numa clara tentativa de aumentar a prospecção
e, por conseguinte, o número de atletas. "A ilha Terceira reúne condições
extraordinárias para a prática do ténis de mesa, dispondo de material de treino
do melhor que existe no país. Como tal, é preciso colocar esse mesmo material
acessível não só aos atletas federados como também à comunidade escolar. Esta é
a melhor altura para arrancar com este trabalho fruto do que se passou nos
Jogos Olímpicos, em que 360 mil pessoas assistiram ao Portugal - Coreia. É
preciso rentabilizar esta mais-valia, levando o ténis de mesa às diferentes
escolas e, inclusive, promovendo formação para professores de educação
física", conclui o novo treinador do União Sebastianense.
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